O Manu...

Hoje conheci o Manu.
Estava eu numa esplanada em cascais, depois de ter saido da minha, cada vez mais adorada, consulta de psicanalise, a acabar de beber a minha coca-cola com limao e a ler o meu livrinho quando o Manu se aproximou da minha mesa com uma serie de fios pendurados no braco e uns oculos de sol nas maos. Disse-lhe que nao queria nada mas ele continuou com uma lengalenga da qual nao percebi metade. Tentei continuar a ler mas ele nao saia dali. Ja em desespero perguntei-lhe quanto custava uma pulseira, pensando que se lhe comprasse qq coisa ele se sumia dali. GRANDE ERRO! Sentou-se sem cerimonias na minha mesa e estendeu todos os objectos que tinha nos bolsos e na mochila. Voltei a perguntar quanto custava a pulseira e ele disse 20 euros. Disse que nao tinha esse dinheiro e voltei a fixar-me no livro mas ele nao desistiu. Acabou por vender-ma por 5 euros e depois de 15 min a dizer o quanto era importante fazermos amizades com pessoas de todos os cantos do mundo num dialecto que era uma mistura de italiano com frances e algumas palavras em portugues, ainda me ofereceu um fio.
A conversa podia ter acabado aqui, mas nao acabou! Pediu-me o nº de telemovel, a morada, disse que era muito simpatica e que me queria oferecer um jantar em alcantara, onde tinha amigos angolanos. Dei-lhe os dados todos trocados mas ele nem assim ficou satisfeito. Quando disse que tinha de ir para casa disse que ia acompanhar-me. AAAAAAHHHHHHHHH, socorro!!! Repetiu nao sei quantas vezes que tinhamos de sair juntos porque era muito importante para ele conhecer pessoas de todos os sitios. Isto foi a metade que percebi, a outra acenei esporadicamente com a cabeca e sorri da forma mais simpatica que consegui.
Quando chegamos a estacao de comboios tentei dar-lhe a entender que tinhamos de nos despedir mas qual que. Disse que ia trabalhar para alges para me fazer companhia no comboio. Estava a ver a minha vida bem negra, com medo que me seguisse ate casa e percebesse que lhe tinha dado a morada errada quando veio o revisor e ele nao encontrava o bilhete. Revirou todos os bolsos mas nao deu com o bilhete. O revisor disse que ja la voltava mas entretanto chegamos a alges e aconselhei-o a sair rapidamente antes que o revisor regressasse. Foi ai que me senti mal por ter estado todos os minutos a desejar que ele me deixasse em paz. Agarrou-me na mao e disse que estava feliz por me ter conhecido. Depois encolheu os ombros e saiu.
E assim conheci o Manu, um senegalense com um olhar triste e meigo que quer ter amigos de todo o mundo...