Wednesday, February 04, 2009

Terra do Nunca





Uma característica minha é ser predominantemente emocional.
Existem alturas da minha vida em que acho que é uma qualidade, outras porém fazem-me crer que é um defeito. Bom ou mau, certo ou errado, é algo muito meu e com o qual tenho de aprender a viver.

Praticamente toda a gente à minha volta me pressiona para crescer. Ser a adulta que todos esperam. Alguém com uma idade mental igual ou superior à idade cronológica que tenho. Até agora não consegui sê-lo, uma adulta isto é. Sempre me senti mais nova que a idade que tenho. Estou como que presa na terra do nunca. Sem ninguém perceber, uma noite de lua cheia saí da minha cama e voei para lá. Encontrei um sítio onde me era permitido não amadurecer.
Sou uma pessoa estranha, tenho noção disso. Em conversas com amigos percebi que era a única que gostava de regressar ao passado em vez de caminhar rumo ao futuro. Sempre senti, no mais íntimo de mim, que ser adolescente é o melhor que esta vida me tem para oferecer. A altura em que nos abrimos mais para o exterior, em que tentamos definir quem somos e quem queremos ser; a fase em que quase tudo nos é permitido, uma vez que é terra de ninguém: ainda não se é adulto mas também já não se é criança. Nesta etapa somos mais rebeldes, saímos mais, falamos mais alto, experimentamos mais coisas e damos mais dores de cabeça aos nossos pais. O choque de gerações é inevitável porque nenhum dos intervenientes se consegue descentrar e ver a perspectiva do outro. Os pais esquecem-se do que é ser adolescente e tentam a todo custo proteger-nos das crueldades que há lá fora. Fora das paredes do lar, o sítio que com tanto cuidado e dedicação criaram para que se transformasse um lugar seguro. O adolescente, porém, sente necessidade de descobrir o que existe para lá desse lugar seguro, e com insanidade temporária acredita que nada de mal lhe pode acontecer. Não há malfeitor, doença ou acidente que o possa derrubar, é invencível.

Agora que olho para trás, não é estúpido pensar-se assim, desde que as experiências que se procuram sejam dentro de limites razoáveis, claro. Tou a falar de violadores, ladrões, doenças sexualmente transmissíveis, toxicodependências e acidentes rodoviários. Pobres pais... eles sabem que existe uma infinidade de coisas más que podem acontecer connosco, os seus rebentos. Quando saía de casa à noite podia ser violada num beco escuro, ser assaltada por um toxicodependente que me picava com uma agulha virulógica, beber álcool até entrar em coma e cair redonda num chão cheio de pedras que me podiam matar por traumatismo craniano. Os pais menos medrosos e mais sensatos podiam imaginar apenas que, quando saía com o meu namorado, ia acabar no banco traseiro dum carro, ou num qualquer vão de escada, a ter relações sexuais desprotegidas e ia ficar grávida, ou pior ainda, seropositiva.

Fiz algumas dessas coisas, não todas, e felizmente ainda tou aqui para contar a história. Por sorte, ou destino, sobrevivi a essa fase contorbada sem nenhuma mazela muito grave. E por mazela muito grave entenda-se não ter engravidado, ficado seropositiva ou toxicodependente, também não tive nenhum coma alcoólico nem fui parar a uma cama de hospital porque aceitei boleia de amigos que já tinham bebido mais do que a conta.

Mas não sobrevivi completamente airosa da coisa... Tive de fazer testes de gravidez, tomar pílulas do dia seguinte, análises às doenças sexualmente transmissíveis, e o meu coração foi partido tantas vezes que já lhes perdi a conta. Sempre pensei que era burrice minha voltar a atirar-me de cabeça numa relação, depois de saber o que é a dor aguda duma perda dum ser amado (Sim, cá está ele, o AMOR... Como fugir a ele se é a coisa que faz mais sentido na pu** desta vida?!?!). Hoje percebo que não é burrice, é coragem. Quem não ama a 100% não ama, e quem fecha o coração a sete chaves com medo que o partam... não vive, sobrevive e vê os outros viverem.

Moral da história: pais deste mundo - eduquem de forma a que os vossos filhos possam voar com uma rede de segurança por baixo (eu sei que é fácil falar enquanto não me cabe a mim fazê-lo, tenho perfeita consciência que um dia que seja mãe vai ser um ver se te havias lol); filhos na puberdade, adolescência ou adultescência (uma nova categoria criada para explicar casos como eu) - experimentem o que o mundo tem para vos oferecer, mas com cabecinha. Coisas más acontecem! Não é só aos outros. Não se fiem na sorte, porque nunca se sabe quando ela nos abandona. Mas acima de tudo voem...

6 Comments:

Blogger John said...

I want to be the first to give you congratulation in writing something so according to what I feel. (Dough I’m only referring to the first tow paragraph, rest is pretty good as well)

Although I’m still a teen ager and like to write a lot of rubbish about all sorts of crap, Returning to the past and living like time stopped would be my perfect living. That’s why I like Never Land, missing it, and now I’m trying to get back, but for a growing septic it’s not easy to find. You found your way, mine will take some more time.
Enjoy yourself wile your there

Wishing the best,

John Kramer

04 February, 2009  
Blogger Sin said...

Thank you :) I appreciate it. Maybe we are not so different as is seems at first sight. Who would have guessed? We have something in common ;) Damn me!

04 February, 2009  
Anonymous Anonymous said...

Nota-se esperança mas enquanto não te afastares daqueles que só te usam ou usaram, a esperança não evoluirá para uma concretização positiva na tua vida.
Em resumo, afasta a porcaria de homens que escolheste e escolhes e tenta ver qualidades naqueles oara os quais nunca olhaste verdadeiramente, se calhar até têm algo positivo para te oferecer e tu certamente tens muito a lhes dar e não é só sexo.Tu és uma menina-mulher que devidamente bem acompanhada, pode evoluir para um mulherão.Pensa nisto que escrevi.

Beijinho

05 February, 2009  
Blogger Sin said...

Lá arcaboiço de mulherão tenho eu lolol isso não há dúvida. Afastar-me dos bastards... já o fiz. Tenho de bater com a cabeça na parede primeiro para perceber que aquele não é o caminho, mas tou a encetar um novo. Sinto-me rodeada de nevoeiro denso e não consigo ver muito além de onde coloco os pés. Ando um passo para a frente e dou dois para trás, mas tenho esperança que este novo caminho me leve a bom porto. Vamos ver...**

05 February, 2009  
Blogger Andre said...

Sempre ouvi dizer que no rancho "Neverland" do outrora preto e agora cal de parede havia uns forrobódós jeitosos...

PS - Isto foi tudo para escrever algo em estrangeiro...isso e para dizer que a autora deste blog is so fucking hot!!!

06 February, 2009  
Blogger Sin said...

ahahah desta vez esmeraste-te André. Gostei! Também tens de começar a adoptar o vernáculo em estrangeiro. Fica-te bem ;) Mais do que isso, assenta-te como uma luva!**

07 February, 2009  

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