Psicanálise: Onde estive e para onde vou.
Vai fazer 2 anos que estou em psicanálise.
Quando entrei tinha muitas expectativas, algumas delas foram frustradas, outras superadas.
As primeiras semanas são assustadoras. Muita gente não se sente confortável em chegar a um consultório, deitar-se no famoso divã e começar a falar sobre a sua vida inteira. Não sobre a semana, não sobre as férias passadas, mas sobre nós: de onde vimos, quem somos e no que nos queremos tornar. E acreditem, isso dá pano para mangas!!! Até porque sempre que estamos a chegar perto dum assunto que nos incomoda, andamos à volta e volta e volta e volta... e mais volta! Não é nada fácil. Quem pensa que a psicoterpia é ir para lá e falar, desengane-se. Exige trabalho, muito trabalhinho de casa!
Em teoria, ou pelo menos é isso que nos ensinam no curso, a psicoterapia dinâmica funciona sobre o princípio de que os terapeutas nos oferecem um modelo de relação diferente do que tivemos. Logo daqui depreende-se que quem procura psicoterapia tem interiorizado um mau modelo de relação. É um juizo valorativo? É. É subjectivo? Claro. É mentira? Não.
Quem é aquilo que é e está contente com aquilo que tem, não vai gastar centenas de horas num consultório e rios de dinheiro (independentemente do bolso de quem saia). Claro que às vezes sabe bem ter alguém que nos ouve, ou melhor, que nos escuta, porque escutar implica querer realmente compreender o que o outro nos diz. Mas com o tempo, a psicoterapia torna-se em muito mais do que isso. As consultas passam a ser um espaço onde podemos dizer o que nos apetece, sem temer julgamentos. Para muitos, pode ser o único espaço em que são eles próprios: sem subterfúgios, sem embalagens vistosas, sem medos. Apenas nós próprios, sem corantes nem conservantes. Nós na nossa essência.
A psicoterapia não é uma fórmula mágica (Quem me dera que a minha analista tivesse uma varinha mágica, me tocasse com ela na cabeça e dissesse «Estás curada, podes ir») mas começo a vê-la como uma viagem de auto-descoberta (Credo!!! Que lugar comum!!), mas é isso mesmo. É uma viagem que começa no que somos hoje, prolonga-se pelo que fomos no passado (que explica o que somos no presente), detém-se muiiiitoo tempo nesse passado e, depois de tudo explorado nesse cantinho da nossa cabeça a que chamamos memória, começamos a olhar em frente, para o que queremos fazer com o resto da nossa vida. O que a psicoterapia faz é dar-nos as ferramentas para lutar pelo que queremos para nós. Não o que os nossos pais/namorado/amigos querem, mas o que NÓS queremos, porque em última instância ninguém vai calçar os nossos sapatos e viver a nossa vida por nós. Mal ou bem temos de ser nós a fazê-lo.
2 Comments:
Só hoje é que percebi que tá um link para o teu blog, no meu... Cabeça na lua, literalmente! :)
Uma coisa que sempre me intrigou: os pscioterapeutas falam contigo? Ou seja, ripostam sobre as tuas respostas, dão opiniões?
Não no sentido de criticarem, mas de "meterem" um pouco das ideias de vida deles na terapia. Ou, simplesmente, fazem muitas e muitas perguntas para te tentarem perceber e deixam-te chegar às "respostas" sozinha?
Que bom encontrar-te por aqui Jack ;) os nossos blogs estão linkados há já algum tempo, mas não é nada que dê mt nas vistas, não é preciso ser cabeça na lua para não ver, acredita.
Agora, quanto à tua pergunta... Sim, os psicanalistas e os psicoterapeutas de orientação dinâmica, que é a minha, fazem interpretações sobre o que dizes e por vezes metem coisas suas no espaço da consulta. É muito subjectivo o que se passa dentro daquelas 4 paredes, não há como fugir a isso. Mas eu acho que é essa subjectividade que o torna um espaço tão único. Porque repara, se quiseres falar sozinho, falas p um espelho. Se não procuras respostas vais à missa e confessas-te.
O que torna único a psicoterapia é que forma-se uma aliança entre duas pessoas que não se conhecem de lado nenhum mas que vão trabalhar para um mm objectivo: o conhecimento aprofundado de quem somos, porque somos assim e não de outra forma qq, e o que podemos fazer para mudar e nos sentirmos melhor.
Não há como tornar impessoal e objectivo a troca de ideias entre duas pessoas, que sentem, pensam, logo existem! ;) Se os psicoterapeutas não pusessem algo do que são na consulta, seria um diálogo com um mudo. Muitas vezes falamos de coisas que são dificeis, e não imaginas o quanto pode ser desbloqueador da ansiedade que tás a sentir naquele momento, uma simples vocalização ou uma frase que te mostre que a pessoa que te está a ouvir está a compreender tudo o que estás a dizer e que não faz julgamentos depreciativos a teu respeito. É muito bom, mesmo! Aconselho toda a gente a experimentar, pelo menos um par de meses. Se um dia estiveres interessado diz, eu arranjo contactos ;)
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