Saturday, February 21, 2009

A tradição já não é o que era... E ainda bem!



Nao estou a passar uma boa fase, e aqueles que me conhecem sabem disso, aos outros peço desculpa pelo teor carregado que alguns posts têm. Mas não gosto de fingir. A transparência nem sempre é uma virtude, mas é com ela que têm que lidar todos aqueles que me conhecem e os que por aqui passam.

Dito isto, queria expressar o meu pesar e espanto por me ter apercebido, recentemente, o quão conservadores são algumas pessoas da minha geração.

Podem chamar-me idealista ou ingénua, mas não consigo conceber como é que pessoas jovens podem olhar para temas polémicos como o aborto, a eutanásia e o casamento entre homossexuais duma forma tão... «se a Igreja diz deve ser verdade». Não estou aqui para fazer juizos de valor. Não vou dizer que os que se autodenominam pelo «sim à vida», ou os que acham que os homossexuais são uma espécie de coisas estranhas que para aí andam a contaminar os virtuosos (os que vão todos os fds à missa e bebem todos aqueles ensinamentos fantásticos, mas que como é óbvio não praticam), são pessoas limitadas e com falta de formação não só educacional como cívica. Não, não vou defender essa linha de pensamento porque acho que não me leva a lado nenhum. Mas também não posso deixar de ficar indignada ao perceber que há pessoas da minha geração que pensam como os meus avós. Como é que é possível?!

Os meus avós viveram no tempo do mui nobre Salazar, e por vezes ainda ouço dizer que «pelo menos andávamos todos na linha», e «talvez o que precisemos agora é doutro». Afirmações como esta fazem-me alguma urticária, confesso, mas são os meus avós... Mas jovens adultos terem o mesmo de pensamento retrógrado é que já me ultrapassa.

Como é que alguém educado e informado pode achar que os direitos que temos hoje não são para todos, são apenas para os que se encaixam na média, no que é normativo? Sempre houve casos que se desviam dessa norma, mas são sempre poucos, comparativamente com a massa que se situa na média, seja lá o que isso é. E essa massa mediana acha-se no direito, talvez até no dever, de manter os extremos à parte, marginalizados.

Concretizando um pouco... A maior parte da sociedade é heterossexual, nunca cometeu um crime grave, as mulheres nunca fizeram nem fariam um aborto, e deixar alguém morrer com alguma dignidade e com um grau menor de sofrimento numa cama de hospital é uma aberração. Depois há os homossexuais e os bissexuais (que agora estão na moda) que escondem a sua orientação sexual até não poderem mais mentir, e que quando finalmente o fazem, são olhados pelos ditos «normais» com desconfiança e asco. As mulheres que resolviam ir para a frente com um aborto faziam-no às escondidas, por vezes em vãos de escada, as que tinham mais sorte iam para Espanha fazer o servicinho o mais discretamente possível, não fosse a família, os amigos ou os vizinhos descobrirem e chamarem-na de p***, galdéria ou qualquer coisa na mesma linha. As pobres que o faziam em condições lastimáveis ficavam frequentemente impossibilitadas de voltar a ter filhos ou com complicações graves de saúde. Mas ainda há gente a achar que o aborto não devia ser legalizado. O dinheiro dos contribuintes a ser gasto para que galdérias, que andam para aí na má vida, possam abortar com condições mínimas asseguradas, que ultrajante!!! E não me venham dizer que a preocupação deve ser com o recém nascido, que tem o direito de vir ao mundo, porque comigo não pega. Crianças que nascem sem ser desejadas e que os pais não têm condições psicológicas e financeiras para os ter mais vale não virem mesmo. Lamento se estou a chocar alguém, mas custa-me mais ver crianças esfarrapadas, sujas e sem ter o que comer na rua do que imaginar a morte de um conjunto de células que têm tanta vida como uma paramécia. E por aqui me fico, que já devo estar a provocar uma reviravolta no estômago de algumas pessoas...

Concluo dizendo apenas que: seguir cegamente e acriticamente os ensinamentos duma igreja que não evoluiu com a sociedade actual é, não só lamentável, como perigoso. Como é que se pode dar crédito a uma Igreja que continua a apregoar que não se usem métodos contraceptivos quando a taxa de Sida é alarmante e as gravidezes na adolescência e puberdade são cada vez em maior número? Expliquem-me como!!!

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