O dia de Ontem

Ontem foi, segundo dizem, o dia mais romântico do ano.
Ontem foi ainda mais difícil estar sozinha do que o resto dos dias.
Quem disse que a acção é inimiga do pensamento tinha muita razão.
Enquanto estive a trabalhar, de reunião em reunião, de consulta em consulta lá me fui preocupando com os problemas dos outros em vez dos meus. É isso que faço, foi isso que escolhi fazer: preocupar-me com os outros, e, às vezes até, pelos outros...
Mas assim que saí do portão da clínica a minha cabeça começou a rodopiar. Estou sozinha. Ninguém com quem ir jantar à luz das velas; dar um passeio ao luar; trocar juras de amor; dar presentes cheios de corações e fazer amor carinhosamente, de forma lenta e dengosa, com um sentido amo-te pelo meio. Não, não tive nada disso.
Tive memórias de tempos mais felizes. Memórias de um tempo em que este dia era passado a dois, com os dedos enlaçados e com um sorriso tolo nos lábios.
Tive um beijo e um chi coração do meu Guguinha, mimos dos meus avós, força duma amiga e a Anatomia de Grey e a Clínica Privada ao final do dia. Tive também uma lágrima derramada ao perceber que uma relação acabou antes sequer de começar.
Podia ter sido pior.