Thursday, January 10, 2008

Um dia na clínica

De manhã saio de casa e passo por um segurança. Dou-lhe os bons dias e ele retribui com um sorriso aberto. Por momentos deixo que aquela sensação de bem estar me inunde. Vou bem disposta até à paragem de autocarro. Depois o efeito vai desvanecendo-se ao longo da manhã. A menos que alguém lá na clínica me sorria com vontade e mostre que realmente está contente por me ver. Hoje foi um desses dias. Uma senhora viu-me no corredor e veio até mim de braços abertos. Deu-me dois beijos na cara daqueles ruidosos e perguntou-me como estava. A política das instituições é que os técnicos devem manter distância, que não se podem envolver. Eu não consigo fazer isso. Quando estou nas reuniões sinto quando alguma delas está mais abatida, quando estão revoltadas, quando algo não está bem com elas. Por vezes só me apetece chegar ao pé delas e abraçá-las, perguntar-lhes o que se passa e tentar que fiquem bem. Dizem-me que não posso ser amiga das doentes, que não estamos ali para ser simpáticos ou para que gostem de nós. Mas será que preocupar-me com as doentes e querer que elas estejam o melhor possivel fará de mim uma má profissional? Talvez esteja errada. Mas sinto calor quando entro nas unidades e me vêem cumprimentar. Não me importo se me chamam ou não doutora, não quero saber se me tratam por você ou por tu. Quero apenas sentir que posso ser útil ali, que pelo menos enquanto conversamos elas se sentem bem. A maior parte das doentes mentais são como as crianças. Precisam de muita atenção e afecto e isso eu posso dar.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Não te usarão,não te explorarão, não te trairão :)

11 January, 2008  
Blogger Sin said...

Quem, as doentes ou os técnicos? lol

11 January, 2008  

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