Friday, January 30, 2009

É em dias como este...




É em dias cinzentos como este que deixo que o entusiasmo esmoreça.
É em dias como este que sinto um vazio muito grande dentro de mim e cedo à tentação de fazer o que não devo.
Quando sinto este vazio a apoderar-se de mim tento rodear-me de amigos, mas o que acontece por vezes é que os amigos não estão disponíveis. A minha Aninhas tá no Alentejo, a Beatriz tá a trabalhar, a Susana vai sair com o namorado. Lembrei-me duma 4a pessoa com quem me apetecia muito estar, mas tive receio de parecer ridícula e acabei por não dizer nada.

Não sei explicar o que se apodera de mim nestes dias, mas não suporto a solidão e faria quase tudo para escapar dela (cometi os maiores erros da minha vida à conta disso). Por pouco não mandei msg às pessoas erradas. Pessoas que não me fazem bem, que assim que estou com elas me fazem querer voltar a estar só. Que me fazem sentir pequena e feia, descartável e substituivel. Por pouco... mas hoje, por qq motivo, não o fiz.

Em vez disso, andei de loja em loja e estoirei dinheiro. Comprei roupa e acessórios. Nada de especial. Coisas que pouco valor têm mas que adquirem um novo valor quando penso que finalmente estou a comprar o que gosto, sem uma voz crítica ao lado a dizer que tudo me fica mal ou que só gosto de trapos sem jeito nenhum. Odeio metade das coisas que tenho. Umas deram-me, outras compraram-me e aceitei, tentando agradar. Mas tou farta! Já que me vão criticar de qq forma ao menos que seja por algo que gosto. É triste ter na cabeça um estilo mt definido do que queria ser e andar completamente ao lado.

Estou cansada de vestir uma pele que não é a minha, cansada de esforçar-me por agradar e não ter ninguém que faça o mesmo por mim. A minha mãe sempre me disse que exijo muito das pessoas, mas o que ela não vê é que não exijo nada que não esteja disposta a dar de volta.

Wednesday, January 21, 2009

O problema está em nós ou nos outros?




Houve várias coisas que li no «Economist Fables» que me deixaram a pensar...
Há lá ideias com as quais eu não concordo, outras que me fazem todo o sentido. Até aqui nada de extraordinário. As pessoas são todas diferentes e não pensam todas da mesma forma, e ainda bem, porque senão a vida seria uma seca!

O que me deixou mais pensativa foi esta frase do Jack:«you may fall many times, but you won't be a failure until you say that someone pushed you.» Porque é que esta frase fez ressonância na minha cabeça? Porque eu, de acordo com esta frase, sou um falhanço completo.

O que ando a tentar perceber na Psicanálise é porque é que sou da maneira que sou. Independentemente de gostar ou não de mim, que é uma questão importante mas que por agora não é para aqui chamada, eu sou como sou devido a duas variáveis: os genes que me foram passados hereditariamente e o meio no qual eu estou envolvida. Durante muitos anos esse meio é essencialmente constituído pela nossa família mais próxima. Quando somos crianças funcionamos como autênticas esponjas e apreendemos tanto o bom como o mau. Daqui decorre que se vivermos no meio duma família minimamente funcional, temos grandes chances de nos safar na vida em sociedade. Podemos ser brilhantes (se os genes e o meio ajudarem) ou simplesmente pessoas normais (se nada de muito grave ocorrer durante os primeiros anos de vida e , mais uma vez, se os genes ajudarem). Quem fizer parte deste grupo... está safo!

Mas o que acontece se os genes forem levados da breca e se a nossa família não é tão funcional como deveria?
God save us all! lol
É um caso bicudo. Nestes casos temos os neuróticos e os deprimidos dum lado (onde as coisas não correram muito bem mas podiam ter corrido ainda pior) e temos todo o tipo de psicóticos do outro (onde tudo correu mal, desde que ainda só eram gâmetas a fundirem-se e a entrar em sucessivas mitoses e meioses, até serem gente e serem capazes de ser autónomos). Quem fizer parte deste grupo está basicamente fo****.

Se for um psicótico acaba por passar, pelo menos uma vez na vida, por uma, ou as duas instituições que se seguem: Estabelecimento Prisional e Clinica/Hospital Psiquiátrico. Geralmente os psicopatas e os sociopatas preferem a primeira instituição, e os bipolares e os esquizofrénicos preferem a segunda.

Se for um neurótico ou um deprimido, vai gastar muito tempo e dinheiro em psicoterapia (seja com um psiquiatra, um psicólogo, um psicanalista ou um terapeuta da arte-terapia). Mas acredito piamente que a psicoterapia é uma boa solução, seja ela de que tipo for. Ajuda a perspectivar as coisas de uma outra forma. Vai dizer a um borderline ou a um obsessivo-compulsivo que ele tem a sua cota parte de responsabilidade por estar como está e a um deprimido que ele não tem culpa de tudo o que se passa à sua volta.

Eu faço parte do grupo dos deprimidos. Acho quase sempre que fiz qualquer coisa errada. A culpa acompanha-me todo o santo dia, não tem folgas nem fins-de-semana. Está sempre presente, como uma sombra indesejada. Para me tentar ver livre da depressão tenho de aprender a pôr as coisas cá fora, em vez de interiorizar tudo o que vejo de mau e achar que sou responsável. Isso passa por responsabilizar mais alguém, além de mim, pelos problemas que hoje tenho, porque efectivamente, eu já fui uma esponja, e tudo de importante que foi feito e dito me marcou, ora pela positiva, ora pela negativa. Eu hoje sou um somatório de todas as pequenas coisas que foram ocorrendo na minha vida, que já não é assim tão curta. Sou um somatório de todos os acontecimentos, pequenos ou grandes, de todas as pessoas que conheci, gostando ou não delas.

Isto quer dizer que sou um fantoche?
Não. Eu não posso evitar conhecer pessoas com as quais não me dou bem ou que me magoam por magoar, mas posso seleccionar com quem me continuo a dar. Não posso escolher quando e com o quê vou adoecer, mas posso decidir como vou reagir à doença. Não posso esperar que uma vida boa e sem grandes apertos me caia no colo, mas posso tentar trabalhar para merecê-la. Não posso ser perfeita, mas posso tentar ser a melhor pessoa que conseguir.

Acho que é tudo o que podem esperar de nós. É que tentemos ser o melhor possível, quer isso passe por pôr o foco do problema dentro, ou fora de nós. Cada um tem de encontrar o seu equilíbrio e fazer o possível por gostar de si próprio e gostar dos outros, respeitar-se a si próprio e respeitar os outros. É um equilíbrio lixado de ser conseguido, talvez por isso andemos cá tantos anos. Ninguém acerta à primeira nem nasce ensinado. Todos nós vamos lá por tentativa e erro. Uns têm de errar mais até aprender, outros menos. Mas é só uma questão de ir tentando até acertar.

Thursday, January 15, 2009

Psicanálise: Onde estive e para onde vou.




Vai fazer 2 anos que estou em psicanálise.
Quando entrei tinha muitas expectativas, algumas delas foram frustradas, outras superadas.

As primeiras semanas são assustadoras. Muita gente não se sente confortável em chegar a um consultório, deitar-se no famoso divã e começar a falar sobre a sua vida inteira. Não sobre a semana, não sobre as férias passadas, mas sobre nós: de onde vimos, quem somos e no que nos queremos tornar. E acreditem, isso dá pano para mangas!!! Até porque sempre que estamos a chegar perto dum assunto que nos incomoda, andamos à volta e volta e volta e volta... e mais volta! Não é nada fácil. Quem pensa que a psicoterpia é ir para lá e falar, desengane-se. Exige trabalho, muito trabalhinho de casa!

Em teoria, ou pelo menos é isso que nos ensinam no curso, a psicoterapia dinâmica funciona sobre o princípio de que os terapeutas nos oferecem um modelo de relação diferente do que tivemos. Logo daqui depreende-se que quem procura psicoterapia tem interiorizado um mau modelo de relação. É um juizo valorativo? É. É subjectivo? Claro. É mentira? Não.

Quem é aquilo que é e está contente com aquilo que tem, não vai gastar centenas de horas num consultório e rios de dinheiro (independentemente do bolso de quem saia). Claro que às vezes sabe bem ter alguém que nos ouve, ou melhor, que nos escuta, porque escutar implica querer realmente compreender o que o outro nos diz. Mas com o tempo, a psicoterapia torna-se em muito mais do que isso. As consultas passam a ser um espaço onde podemos dizer o que nos apetece, sem temer julgamentos. Para muitos, pode ser o único espaço em que são eles próprios: sem subterfúgios, sem embalagens vistosas, sem medos. Apenas nós próprios, sem corantes nem conservantes. Nós na nossa essência.

A psicoterapia não é uma fórmula mágica (Quem me dera que a minha analista tivesse uma varinha mágica, me tocasse com ela na cabeça e dissesse «Estás curada, podes ir») mas começo a vê-la como uma viagem de auto-descoberta (Credo!!! Que lugar comum!!), mas é isso mesmo. É uma viagem que começa no que somos hoje, prolonga-se pelo que fomos no passado (que explica o que somos no presente), detém-se muiiiitoo tempo nesse passado e, depois de tudo explorado nesse cantinho da nossa cabeça a que chamamos memória, começamos a olhar em frente, para o que queremos fazer com o resto da nossa vida. O que a psicoterapia faz é dar-nos as ferramentas para lutar pelo que queremos para nós. Não o que os nossos pais/namorado/amigos querem, mas o que NÓS queremos, porque em última instância ninguém vai calçar os nossos sapatos e viver a nossa vida por nós. Mal ou bem temos de ser nós a fazê-lo.

Wednesday, January 14, 2009

Uma pequena grande vitória!




Desde que entrei na blogosfera, há cerca de 5 anos atrás, já mudei de blog 4x. Mudei o nome, o tema, o nick... mas houve uma coisa que sempre se manteve: o facto de não conseguir senão fazer, de cada espaço que criei, um local em que me exponho, em que me dou a conhecer para quem quiser descobrir, em que falo do que me preocupa, das coisas que gosto, das coisas que não suporto, da relação que tenho com as pessoas que são mais importantes para mim... É um blog pessoal. Não venho falar de guerras ou da fome que há no mundo. Não que isso não me interesse, que não me preocupe, mas os meus blogs são coisas locais, não globais.

E é nesse espírito que hoje partilho uma coisa que foi muito importante para mim: resolvi encerrar um assunto que tenho pendente há meses.

Terminei a relação doentia que mantia com uma pessoa que pouco me fez senão mal. Insultou-me de todas as maneiras e feitios, rebaixou-me, enfraqueceu-me, chegou a ameaçar bater-me. Mas entenda-se, eu sou tão culpada quanto ele, mais que não seja porque tudo o que ele me fez foi porque eu deixei. Quando nos sentimos em baixo, e a auto-estima nunca foi o nosso forte, estamos vulneráveis a pessoas que tenham um excesso de auto-estima e se julgam o centro do mundo, pessoas que estão acostumadas a lutar pelo que querem e não aceitar um não como resposta. Que não olham a meios para atingir os seus fins. Todos nós temos polos. Essas pessoas são o meu, justamente porque estou acostumada a ser submissa, a sentir que não valho nada e que só podem gostar de mim se for a pessoa que querem que eu seja...

Mas hoje foi o fim dessa interdependência altamente patológica. Over! Finito!
Só somos sacos sacos de pancada enquanto quisermos sê-lo. Eu tenho-o sido para muita gente. Umas mais próximas, outras menos, mas tenho deixado que me rebaixem e me convençam que tenho o que mereço, e foram precisos quase 28 anos e 2 anos de psicanálise para perceber que mereço mais. Pois bem, enough is enough!!

Nós, os sacos de pancada, os coitadinhos em quem toda a gente que está chateada ou frustrada acha que tem o direito de descarregar a sua fúria, os machos beta das alcateias, também ENCHEMOS e ESTOIRAMOS!!!

E sabem que mais? Sabe muito bem aprendermos a respeitar-nos a nós próprios e começar a exigir dos outros que nos respeitem também. O meu novo lema é: respeitinho é muito bonito, e eu gosto!

Sunday, January 11, 2009

Lucky!




Esta é uma das músicas mais bonitas que ouvi nos últimos tempos.
Por um amigo de longa data, um ex-namorado ou alguém acabado de conhecer... Quando é que terei sorte?...

P.S- André, por favor, não comentes os dotes físicos da moça! São bem visíveis, não vale a pena apontá-los :p

Wednesday, January 07, 2009

Mais um ano que começa





De volta.

Mais um ano que começa. Desta vez sem grandes resoluções de ano novo. Nem sequer consegui pedir os desejos em condições porque não puseram as badaladas à meia noite na tv!!F*cking bastards! Como é que é suposto pedirmos 12 desejos a cada segundo que passa se não sabemos quando temos de largar um desejo e seguir para o seguinte?!
Quando é que sabemos que está na altura de seguir em frente? Largar as amarras do passado e simplesmente avançar?

O ano passado não foi fácil. E para muitos que conheço, foi um fim de ano bem merdoso. Relações de anos que acabam dum momento para o outro, pessoas que morrem, umas de doença, outras em acidentes estúpidos na estrada. Life sucks!

Para mim não houve nenhum momento insuportavelmente mau, mas também não houve nenhum excepcionalmente bom. Foi uma coisa mediana, morna, a atirar para o ensonso. Liguei-me a pessoas que não interessam ao menino Jesus, estagiei numa clínica psiquiátrica onde deixei uma parte de mim, fiz novos amigos mas afastei-me de alguns dos velhos, vi toneladas de séries da fox life, e li dezenas de livros que por umas horas me transportaram para uma realidade melhor que a minha. Gostei de pessoas que não gostaram de mim, e afastei-me das que gostaram mas de quem não consegui gostar. Sempre fazendo comparações com relações antigas, memórias de um tempo em que fui feliz, mas que não voltam. E se pensar nisso a fundo, se remexer no baú da minha memória, até essas relações que agora preservo em mim como um oásis, na altura não foram assim tão boas, ou pelo menos nem sempre foram boas, como agora opto por pensar. É fácil livrarmo-nos dos momentos maus e recordar só os bons, fantasiar que naquela altura é que era, mas de que vale isso? Começo a acreditar que só serve para nos infernizar o presente, fazendo-nos crer que dantes estavamos melhor, eramos mais felizes, mais bonitos, mais desejáveis, tinhamos mais amigos e saíamos mais. Bullshit! Ou talvez não...

Seja como for, andar preso ao passado e não aproveitar o presente é uma grande asneirada. A vida não é fácil, começo a acreditar que as histórias de encantar que nos contam quando somos crianças não servem para mais nada senão deprimir-nos por termos vidas que ficam sempre aquém, que nunca são suficientemente boas. Ainda assim, acredito que vale a pena acreditar que podemos estar bem. Talvez não ganhemos o suficiente para ter casas de dois andares com piscina e jardins bem cuidados, ou para ir jantar fora todas as semanas num restaurante em que os olhos também comem, para viajar todos os anos para destinos exóticos ou para ter um rancho de filhos. As pessoas que são importantes para nós desiludem-nos, nem sempre estão lá para nós e dizem coisas que nos magoam. Umas vezes sem crer, outras vezes de propósito, porque também a elas a vida pode não estar a correr bem.
Mas significará isto que não podemos ser felizes?
Quero acreditar que não...