Friday, October 31, 2008




Li um artigo que me tocou particularmente: um que falava do interrail.
O meu corpo reagiu ao nome. O coração bateu num ritmo mais acelerado, os músculos ficaram mais tensos, os neurónios mais activos. Vieram-me à cabeça as palavras aventura, excitação, receio, cansaço extremo, deslumbramento, descoberta, dores, muitas dores, sim porque nem tudo pode ser bom!
Ao partir da estação do Oriente lembro-me do misto de emoções que me assolaram. Tristeza pela despedida dos que acenavam na estação, receio pelo que estava para vir, excitação pelo desconhecido, descrença por estar mesmo a acontecer.
À medida que as horas passavam a excitação foi ganhando terreno e a tristeza ia dando lugar à alegria. Ali estávamos nós, as três da vida airada, tentando nos preparar para o que se aproximava, mas na verdade nada nos pode preparar para tudo o que se vive num interrail.
No norte de França estávamos frescas, cheias de vontade de explorar, conhecer, fazer e acontecer. O mundo era nosso, a vontade era de ferro, estávamos confiantes e imbatíveis. As mochilas pesadas às costas eram um desafio e um BI. As pessoas ora nos olhavam com pena ora com curiosidade. Na Bélgica as pessoas foram simpatiquíssimas, vinham ter connosco e indicavam-nos direcções e atracções a visitar, só não se ofereciam para nos carregar as mochilas. Em Amesterdão as forças começaram a esvair-se, o interesse pelos monumentos evaporou-se, museus nem vê-los. Compras inevitáveis e mais sacos para transportar. Como se não bastasse a mochila enorme com a roupa acrescentámos sacos de desporto para transportar as prendas. Mas o corpo é nosso amigo, o corpo aguenta! Luxemburgo, um dia apenas, nem vale a pena desfazer as malas. Pijama para quê, só preciso de uma cama. De volta a França. Mais compras, mais peso, malditas mochilas, onde estava eu com a cabeça?! Agrido as pessoas no metro com um chapéu-de-chuva em forma de túlipa. Corro para não perder o TGV, a cada passo me parece mais certo que vou cair e não me vou conseguir levantar, mas não posso parar, parar é morrer! Anseio para que a viagem de TGV passe rapidamente e que possa finalmente apanhar um comboio normal, onde poderei descalçar-me e pôr as pernas em cima do banco. Vergonha? Isso era dantes! Antes de ter «nos pés o cansaço de km», antes de passar fome, antes de ficar rouca de tanto discutir, antes de acordar tão cansada quanto me deitei. Dormito e sonho com a minha cama, com roupa lavada e passada, com a comidinha da minha mãe, com os amigos que ficaram, com o chato do meu irmão, com os dias rotineiros dos quais tanto queria fugir.
De volta a Portugal. Lágrimas no reencontro. Lágrimas de saudade daquilo que se deixou cá e daquilo que se viveu lá fora. Na lembrança ficam as pessoas com quem nos cruzámos, os cheiros e cores dos países visitados, o cansaço extremo que nos faz dar valor a pequenas coisas que temos como certas, a suave cadência do movimento dos comboios cujas carruagens muito têm para contar…

Tuesday, October 28, 2008

«Tudo bem?»

Não sei o que pensam daquelas pessoas que nos saúdam por tudo e por nada com o habitual, e um pouco irritante, «tudo bem?».
Eu não tenho nada contra, desde que essas pessoas queiram realmente saber a resposta. Mas se são daquelas que perguntam porque fica bem, e estão genuinamente a lixar-se para a resposta... então mais vale tarem caladinhos.
Tou cansada de conversas ocas...
O que vale é que ainda há pessoas que me fazem rir ;)
E viva os dias com vento, que fazem todos andarem despenteados e com um ar desgranhado, assim não sou só eu :p

Saturday, October 18, 2008

«Tu ser muito bonita»

Hoje já me fartei de andar. Fui até ao vasco da gama a pé e depois voltei com sacos e pés mordidos. Not good.
Na viagem de regresso, ia eu pacatamente a andar ao lados dos vulcões quando um romeno/ucraniano/qq outro país de leste, me desata a tentar chamar a atenção com uns «heiiii», «wowwwww», «pssssstttt». Tentei ignorar até que não foi mais possível, não passando por mal-educada. Queria saber as horas, mas enquanto procurava o telemóvel para lho dizer correu até mim e agarrou na minha mão para a beijar. Santa Mãe lá de cima. Fiquei impávida sem saber o que fazer, e como não larguei a correr nem desatei aos berros, ganhei uma data de abraços a cheirar a cerveja, fiquei a saber que se chamava André, que fazia anos hoje e era do Benfica. Fiquei também a saber que me achava muito bonita. Deverei descartar o elogio por ter sito feito por um homem de leste bêbado às 11:30 da manhã? Naaaaa, um elogio é sempre um elogio! lol

Monday, October 13, 2008

Dia livre

Segunda-feira. Dia livre. Apesar de estar um dia bonito não saí de casa. O mais perto que estive do lado de fora, foi a varanda solarenga. Depois de estender a roupa pela segunda vez hoje (inconveniência de tar em casa com pouco para fazer), reparei que se estava bem lá fora. Destapei a chaise-long (ou lá como é que isso se escreve) e estiquei-me lá a ler o romance da Nora Roberts que iniciei ontem. Que bem que se está lá, com o sol a queimar as pernas destapadas e os braços desnudos, enquanto se lê um bom romance. Delicioso. Belos momentos de paz apenas interrompidos por frases soltas vindas de dentro «ai, Ana, que bela vida tu tens!»; «E se em vez de estares aí sem fazer nada fosses ao ginásio?»; «Olha, já que não tens nada que fazer, vai estender a roupa»; «De camisa de dormir na varanda?? Não tens vergonha?! Vai já vestir alguma coisa em condições!». É nessas alturas que penso o quão bom deve ser viver sozinha...